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  • RafaelCiampi

A PISCINA COR DE ROSA

Como estávamos de calções de banho, ficamos todos pintados. Acho, inclusive, que estávamos mais pintados que o que quer que fosse que resolvemos pintar. Em segundo lugar, no quesito proporção de pintura, estava o ambiente onde pintamos. Apenas em terceiro lugar entra o que quer que fosse a obra de arte produzida...


 

Há algum tempo, publiquei “De Bicicleta” e me pediram para contar a vez em que a piscina da chácara, a mesma da história anterior, anoiteceu rosa. (E, agora, estou-me sentindo um daqueles músicos da noite, que se apresentam em bares e que em certo momento aceitam pedidos). Não lembro de muita coisa. Nem de todos os participantes.

Nós éramos crianças, ainda. Estávamos na chácara e resolvemos pintar alguma coisa, com uma tinta vermelha que tinha lá. A estupidez do ato é diretamente proporcional à irrelevância do detalhe do que estava sendo pintado e inversamente proporcional ao dano causado, aliás, infantilidade é um fenômeno.

Como estávamos de calções de banho, ficamos todos pintados. Acho, inclusive, que estávamos mais pintados que o que quer que fosse que resolvemos pintar. Em segundo lugar, no quesito proporção de pintura, estava o ambiente onde pintamos. Apenas em terceiro lugar entra o que quer que fosse a obra de arte produzida. Lembrando que, na minha família arte e criança juntos não significa genialidade artística precoce, significa bagunça.

Como estávamos completamente sujos de tinta – se a tinta fosse verde, achariam que estávamos fantasiados de Hulk – surgiu a brilhante ideia de nos limparmos na piscina: “NÃÃÃÃÃOOOO” – Sim, brilhante ideia. Saímos correndo e pulamos na piscina. Quando saímos do outro lado estávamos bem mais limpos. Mas a pergunta que não fizemos movidos pelo ímpeto e pela infantilidade foi: estamos sujos (fato! Podemos dizer pintados, como eufemismo, mas não atenua a quantidade de tinta na nossa pele). A piscina é um sistema fechado. O que você põe lá, fica lá. O que vai acontecer com a tinta que sair da nossa pele? Acho que pensamos que ela iria evaporar instantaneamente, num tipo de sublimação, provavelmente. Mas, na prática, a teoria é outra. A tinta ficou na água e foi logo que percebemos que estávamos limpos, que percebemos que a água estava suja, e que meu pai estava aos berros. Não lembro as palavras, mas duvido que fossem publicáveis, aqui, nesse ambiente, nesse horário.

Meu pai mandou todos saírem da água – acabou a brincadeira – aplicou os produtos de limpeza e disse que era melhor eu rezar para a piscina amanhecer com a sujeira no fundo, para que pudesse ser aspirada, senão... como era fim do dia, não deu para ver se a água ia limpar, mas amanheceu limpa, ou melhor, a sujeira decantou, depositou-se no fundo, como acontece com a sujeira da piscina antes de ser aspirada. O temor era, por se tratar de tinta, poderia ter “pintado” o fundo da piscina e, nesse caso, provavelmente, eu não estaria aqui, conversando com você, agora. Meu pai limpou a piscina, devo ter sido o ajudante, mas não me lembro. Depois de concluído o serviço, com a piscina limpa, tivemos que passar esponjas de aço na borda da piscina, a água tinha sujado os azulejos da piscina, naquela linha da altura da água. Para aumentar a tortura dos culpados (eu era um deles), meu pai colocou todo mundo para ajudar, inclusive os inocentes. Pior do que trabalhar sozinho, era ver a turma inocente, reclamando da injusta divisão de tarefas.

Além da lição sobre sistemas fechados e atitudes inconsequentes, a outra foi a de diluição. Tinta vermelha diluída em um montão de água, fica rosa. Mas por favor, não faça isso!

Nota mental: não pular na piscina com o corpo coberto de tinta.

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