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A REDE

  • RafaelCiampi
  • 4 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

A lição que podemos tirar do balanço da rede é que o movimento para um lado pode ser inibido, ou potencializado, por um movimento para o lado oposto. Dependo, aí, da intenção em que se aplica o movimento.

Não estou falando da internet, nem de qualquer conjunto de conexões, como rede de contatos – network. Estou falando da velha rede de dormir, de balançar, mesmo. Na qual nos deitamos e ficamos – pelo menos, eu – divagando, lendo, descansando ou ouvindo música.

Prefiro as de tecido mais fino, mais arejadas, que aliviam o calor – esse está sendo escrito em papel e caneta, bem diante do vão, aqui em casa, onde penduramos a rede. Tive uma hesitação com relação a um detalhe ortográfico e, por uma fração de segundo, esperei aquele sublinhado vermelho, identificando, ou não o erro. Ao lembrar que a caneta não o faz sozinha, tive de parar e pensar para garantir a escrita correta – mas o que importa é o movimento da rede, o balanço dela.

Em dias abafados, mesmo não tão quentes, deitar na rede facilita a dispersão do calor. Seja pelo tecido – fino, lembra? – seja pelo movimento que gera uma circulação de ar, um “vento” – lembrei, agora, de um casal de amigos, que num desses dias quentes e abafados, em que setembro seria um ótimo exemplo, quando enfrentamos aquele ar quente, parado e úmido, duplamente pior para quem mora em Brasília, onde somos acostumados com dias secos e com vento. O tal casal estava em algum trajeto, de carro, e conversavam sobre o enorme calor. O marido comentou sobre as altas temperaturas, reclamou do ar parado, sem vento. Nesse instante, foi abruptamente interrompido, pois a esposa, com a mão na janela, do carro em movimento, protestou: Não! Está ventando, sim! Olhe aqui. – Enquanto estamos na rede, sentimos, portanto, o “vento” produzido por ela. Soma-se a isso, o sonzinho gostoso dos ganchos que rangem suavemente, ajudando a embalar quem se dá, ou pode se dar, ao luxo desse prazer.

O movimento de vai-e-vem é criado por alguma propulsão. Pés, mãos, empurrando chão, parede, mesas, cadeiras, ou o simples balançar estratégico, da perna. Aproveitando-se adequadamente da energia criada, pode-se ir acumulando-a e, consequentemente, aumentando o embalo e a amplitude do movimento.

A lição que podemos tirar do balanço da rede é que o movimento para um lado pode ser inibido, ou potencializado, por um movimento para o lado oposto. Dependo, aí, da intenção em que se aplica o movimento. Conseguimos, com movimento simples e pequeno, interromper, manter ou intensificar o balanço da rede. É necessário que tenhamos claro, onde, quando e como o fazer. Basta fazer movimentos lentos e curtos e ir observando o melhor movimento, o melhor momento e intensidade. Pensando em balançar a rede, em poucos segundos podemos chegar, da inércia total, a um movimento um pouco além do esperado, para que possamos curtir o balanço, sem ficar se cansando desnecessariamente.

Estamos, agora, caminhando para um pico da pandemia, queremos que ela se interrompa e estamos, portanto, fazendo movimentos na direção oposta. Daí, pergunto: De todos os movimentos na direção oposta, qual o que realmente interrompe o movimento? Será que todos que estão empurrando para o lado oposto estão analisando o movimento e escolhendo o que melhor inibirá esse indesejável balanço? Será que estão realmente querendo interromper o balanço, ou desejam, com o movimento oposto, aumentar a força do seu retorno? Ou só mantê-lo para dificultar a percepção de outros problemas, tão sérios e mais antigos.

A rede vai, a rede volta ...

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