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COELHO DA PÁSCOA

  • RafaelCiampi
  • 12 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de mai. de 2020

"Domingo de Páscoa. Eis que chega o grande dia. Na chácara, as coisas são um pouco diferentes. Como era numa área rural, próxima a um lago, com bastante vegetação, as manhãs eram mais frias e úmidas, convidativas para mais alguns momentos de preguiça. Sem barulho de carros e sem os compromissos do dia a dia, tudo era um pouco mais devagar. Como a cozinha não tinha separação para o restante da casa (tipo cozinha americana), eu sempre acordava com aquele cheiro de café sendo preparado"

Eu tinha lá meus 15 anos, isso já faz uns 15 anos (ou mais, mas não vem ao caso sermos tão específicos). Como era comum, iríamos passar o feriado da semana santa na chácara da família. Portanto, os dias que precediam o evento eram repletos de tarefas, mas eu não tinha visto, nas compras, os Ovos de Páscoa.

Eu já não acreditava no Coelho da Páscoa, já tinha sido cúmplice de idas ao supermercado para constatar o fato, mas ainda acreditava nos ovos de chocolate (aliás, em qualquer formato) e, num rompante de curiosidade, passeei pela casa, em busca dos côncavos chocolates (ou convexos, não lembro mais. O importante é o chocolate!!), sem querer confessar meu interesse por eles, por serem coisa de criança. E eu não era mais criança! Com uma certa frustração, percebi que não haviam ovos de Páscoa escondidos. Nem naquele armário da área de serviço. Achei que tinham ficado mais para cima da hora. O que era raro, com o meu pai.

Enfim, dia da partida. Na quinta-feira, logo depois do meu pai retornar do trabalho, já com todos da família em casa, começamos a embalar e colocar as coisas no carro. Cada um com suas tarefas. Eu, ajudando a carregar o carro e aproveitando para verificar os conteúdos. Isopores, cestas, malas, panelas, sacos. Tudo acomodado e verificado. Fato: o coelhinho não iria passar lá em casa, naquele ano. Por mim, tudo bem. É só chocolate. Mas seria gostoso, se tivesse.

O fim de semana transcorreu sem mais novidades. Acomodar as coisas: geladeira, armários, prateleiras. Encher caixa d`água. Nos dias seguintes, afazeres “rurais” (“Severino, traz o prato!!”), passeios de bicicleta, piscina, rede na varanda, etc.

Domingo de Páscoa. Eis que chega o grande dia. Na chácara, as coisas são um pouco diferentes. Como era numa área rural, próxima a um lago, com bastante vegetação, as manhãs eram mais frias e úmidas, convidativas para mais alguns momentos de preguiça. Sem barulho de carros e sem os compromissos do dia a dia, tudo era um pouco mais devagar. Como a cozinha não tinha separação para o restante da casa (tipo cozinha americana), eu sempre acordava com aquele cheiro de café sendo preparado (mesmo ainda não sendo consumidor, sempre adorei aquele aroma). Era meu pai que acordava cedo, dando uma colher de chá para a minha mãe, que cuidava dos afazeres domésticos “na cidade”. Ali, era ele quem acordava cedo, para cuidar do café.

A mesa de refeições ficava na varanda e como era comum nessa época, o café era posto na mesa. Não era uma mesa de café das novelas, mas quem come aquilo tudo de manhã? Os barulhos das tarefas matinais e o cheiro do café, que dá uma sensação de aconchego, eram motivo suficiente para me fazer pular da cama.

Cumprido o ritual matinal, fui para a varanda, flutuando, atraído pelo cheiro do café, como nos desenhos animados. Quando cheguei, uma cesta com ovos de Páscoa. Comentei com meu pai sobre as minhas dúvidas. Insisti na explicação, mas, como um bom mágico, nunca explicou o segredo. Inclusive, mesmo com provas em contrário, até o seu falecimento, nunca aceitou dizer que o coelho da Páscoa não existia. Desde aquele domingo, fiquei com dúvida.

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