EXAME DE SANGUE
- RafaelCiampi
- 9 de mar. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de mai. de 2020
A idade chega e não vai mais embora! Uma consulta médica é sempre cheia de expectativa.
Finalmente rompi a barreira dos quarenta. O corpo começou a demonstrar claramente que eu deveria ter comido mais salada, assistido menos TV, feito mais exercício...
Fui a um médico, pois estava sentindo dor nos dois cotovelos. Já tinha ouvido falar em dor de cotovelo, mas parecia ser algo diferente e apenas em um deles. Depois do tradicional:
- bom dia, o que te trás aqui? A vontade de responder: “eu vim no meu [Concessionárias de veículos: coloquem aqui a sua marca]”, foi enorme, mas optei por usar a resposta padrão. Dor de cotovelo (mas respondi de forma mais completa e ilustrativa).
Há, vamos dar uma olhada. Daí ele apertou com bastante força, num ponto onde não estava doendo, mesmo porque ali não é o cotovelo. (Apesar de eu não ter estudado medicina, isso eu sei!) A força usada causou um desconforto dolorido, nada que eu precisasse fingir que era macho, mas fiquei me perguntando se ele iria usar aquela força toda no ponto “D” (de Dolorido prá Dedéu). Chegou mais perto, deu outro apertão. Eu disse que doía normal, se bem que eu não sei se é normal doer, portanto, fica bem confuso. Pensei em avisá-lo que estava realmente doendo bastante no cotovelo e que se ele estivesse pensando em apertar com aquela força toda
SETFRGBI;J9[GVdfg rw sdf GH G SRT S FG SDF S’P[-098PO7TI65E 44AWZSCV BHU897FXG6... (não, esse não é o chassi do meu carro, é só uma tentativa de descrever o que se passou em minha mente naquele instante). Ele apertou!!!
Acho que fiquei alguns segundos em coma, ou devo ter morrido mesmo. Até agora, personifiquei duas expressões corriqueiras: dor de cotovelo e morrer de dor. Não me lembro de nenhuma outra associada a dor, mas prefiro achar que não exista. Vai que eu personifico!
Quando o som do meu grito atingiu frequências audíveis pelo ouvido humano, pude voltar a conversar com o médico:
- “É, é bem aí, que está doendo muito”. Uma cotovelada no queixo dele poderia ser uma bela demonstração da intensidade da dor e até ilustrar a sensação de desfalecimento que experimentei, mas preferi deixar para lá. Enxuguei, disfarçadamente, a lágrima que correu pelo olho esquerdo. Daí o médico disse:
- Vamos investigar para descobrir o que é. Eu pensei:
- Vamos? Eu não sei o que é. Por isso vim até aqui. Para piorar, investigar o quê? Cometi algum crime? Aquele apertão foi um tipo de cumprimento antecipado de pena?
Ele me passou uma lista de exames de sangue e um de urina. Morri de vontade de interrompê-lo, para lembrá-lo que a dor era nos cotovelos, mas a cara de concentração e a segurança na fala dele fizeram-me desistir da ideia.
Com os pedidos dos exames em mãos, fui ao laboratório [coloque aqui a sua marca – consulte-me sobre preços e aproveite que ainda sou desconhecido], acho que eram 16. Peguei o potinho, para coleta de material e informações para os procedimentos.
No dia e horário combinados, cheguei ao laboratório. Em estado de inanição, porque tem que ficar sem comer até a hora do exame. Calma! É só desde a véspera, não fiquei sem comer desde o dia da consulta.
- “Bom dia, vim fazer uns exames” - entreguei o potinho – “Aqui está o dever de casa”.
Depois de anotar, etiquetar e me mostrar que tudo estava com o meu nome, fui encaminhado para uma salinha. Uma moça muito gentil, pediu licença, pediu para eu escolher o braço que iria ser furado e tentou enfiar um tubo com a espessura de um gargalo de garrafa. Dei um grito:
- Você está pensando em enfiar um negócio desse tamanho no meu braço?!? Ela mostrou que o tubo tinha dentro uma agulha e que, portanto, era só uma agulhada. Depois de me furar, começou a fincar aqueles tubos de ensaio. O meu sangue jorrava lá dentro. Tubo cheio? Tira e põe outro. Assim mesmo, depressa. Sem nenhuma despedida.
- “Moça, deixa eu falar com ele, é sangue do meu sangue”!
Alguns tubinhos depois, comecei a achar que a vista estava escurecendo. Será que o jejum é para eu desmaiar e não revidar à espetada? Perguntei se ela sabia se o laboratório patrocinava algum filme de terror, ou se tinha acontecido alguma tragédia nas proximidades, tentando entender porque estava tirando tanto sangue. Fiquei me perguntando: Quantos litros de sangue têm dentro da gente? Quanto cabe em cada tubinho? Quanto sangue a pessoa pode perder, sem um dano permanente ou sequela?
Já com o som longe e a visão turva, pude ouvir a enfermeira avisando que já estava acabando. Disse que eu sabia, pois mais uns dois potinhos e eu ia virar do avesso. Ela riu:
- “Está acabando a coleta de material para os exames”. Quando acabou, ela me encaminhou para uma salinha que tinha café, uns biscoitos em uns potinhos e umas bananas. - Não tem uns pãezinhos de queijo, não? Deve ser a crise. - Procurei uma máquina de transfusão para repor o que perdi na hemorragia clínica. Pensei na quantidade de sangue que tinha saído e achei que o que tinha de comida ali não seria suficiente para repor o que perdi.
Comi um pouco, fui para o trabalho com um curativo [coloque aqui a sua marca] no braço e ficarei aguardando o resultado, que deve demorar uns 15 dias para ficar pronto. Acredito que o transporte daquele sangue todo deve, realmente, demorar.





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