FESTINHA DE CRIANÇA
- RafaelCiampi
- 23 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de mai. de 2020
... As crianças chegando, isoladamente e em silêncio.
- Deve ser porque ainda não se organizaram.
- São dois pais para cada criança. Um prá um, é raro. E mesmo numericamente inferiores, elas sempre vencem, no final.
- Algo como os 300 de Esparta...
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- Oba! Hoje tem festinha!
- Opa. Esqueci de comprar o presente!
- Por que não comprou na quinta?
- Teve a assinatura do contrato, e depois confraternização.
- Tudo bem, dá tempo. É só sair um pouco mais cedo.
- Ok! Abastecer, comprar o presente e as coisas para o café da manhã. Calcular a margem de erro.
- Fechou a janela? E a porta dos fundos?
- Celular, chave de casa e eteceteras.
- O que são eteceteras?
- Chegamos cedo?
- Bem no horário.
- Opa! Vamos ser os primeiros.
- E a margem de erro?
- É que deu tudo certo.
- A gente fica, aqui, enrolando...
- Você ouviu o estalo?
- Opa! O portão. Fomos descobertos.
- Pega o presente!
- Oba! A anfitriã veio nos receber. De braços abertos.
- Como sempre!
- Não. Com uma taça de espumante na mão. Espumante em festa de criança?! Oba!
- Opa. Vou ser o amigo da vez.
- Boa tarde.
- Boa tarde.
- Boa tarde.
- Não. Não quero nada agora, não. Obrigado.
- Já percebeu que sempre negamos três vezes? Será que isso deveria ser algo tão profético assim?
- Sei lá. O que você está falando?
- Deixa prá lá. Vamos aproveitar para observar a festa desde o início. As crianças chegando, isoladamente e em silêncio.
- Deve ser porque ainda não se organizaram.
- São dois pais para cada criança. Um prá um, é raro. E mesmo numericamente inferiores, elas sempre vencem, no final.
- Algo como os 300 de Esparta.
- Eles chamaram animadores?
- Opa, ou oba!?
- É uma boa os pais terem alguns momentos sem precisar se preocupar tanto com os pequenos, sabendo que haverá alguém de olho. Ficar de folga um pouco.
- Será que eles sabem o que acontece quando elas se entrosam?
- Lembrei daquela tarde no shopping.
- Um deles está chamando para brincar! Será que é prudente incentivar? A outra, sim, são dois! Ela está pintando as crianças. Com tinta!
- É antialérgica.
- Eu estou preocupado com os outros, os adultos.
- Opa! Viu? Foi abraçar sujou tudo.
- Dá prá lavar.
- É, mas até hoje não vi a bolsinha de emergência com roupas limpas para os pais.
- Talvez seja o caso de reconhecermos a derrota e começarmos a trazê-las. Eu sei que não tenho filho. Quis dizer nós, os adultos! ... mas aquele nós, em que eu estou fora. Esquece um pouco a gramática!
- Começou a correria. Aquele outro quase morreu, quando viu o pula-pula.
- Está bom, obrigado.
- Sério? Você disse para o garçom que estava bom, quando já tinha quase só um dedo para completar o copo?
- Quis ser gentil com o garçom.
- Cara de pau!
- Oba!! Tem salgadinho! Dois, por favor.
- Oba! Mais dois.
- Oba, mais dois
- Opa! Não, obrigado. Estou cheio.
- Era melhor ter dito “satisfeito”.
- ... muitos anos de vida!!
- Oba! Docinhos!
- Opa! Está na hora de irmos embora.
- A tarde toda falando e com fama de calado.
- Mas você falou alguma coisa?
- Como assim falou? Ué. De vez em quando.
- Eu pensei. Se bem que você disse “você”. Então, tem mais de um?
- Na psicologia tem três. Ou psicanálise, sei lá, é tudo tão doido.
- Sei. Aquela coisa do ego, id e superego.
- É, deve ser. Pense que é um jogo de xadrez com uma pessoa só.
- Entendi. Parou de usar o pronome de tratamento, manteve o verbo em terceira pessoa, com o sujeito oculto, para dar uma disfarça na história do “você”.
- Não! “Pense” é imperativo!... E ainda fica tirando onda que sabe português.
- São eles que falam.
- “Eles” quem?
- E ainda fica corrigindo, que eu sei!
- Cara! Somos quantos, aqui!?
- Esquece! Concentra! Jogo de xadrez! Uma pessoa. Começa com as brancas, vira o tabuleiro e movimenta as pretas. E assim sucessivamente.
- Ah, entendi. Mas aí, seriam dois, como fala aquele israelense que está na moda, e não três.
- Acho que é assim: Movimenta as brancas. Vira ¼ do tabuleiro. Ele usou a saída clássica! Mais ¼ de volta. Movimento das pretas. Outro ¼. Ah, aquela defesa com nome russo. Mais ¼ e volta, as brancas...
- Opa! Nem sabe jogar, está tirando onda! Saída clássica? Nome russo!!? Vai fazer o quê? Procurar na internet? Ou citar o que leu no jornal?
- Não se preocupa com os detalhes, desse jeito são 4.
- Não, burrinho! Você estava virando o tabuleiro! Um só!
- Ah, tá. São 4 pontos de vista.
- Viu? Melhor, né? Só é muito reflexivo. Racional. Pensativo.
- Opa. Já saiu do assunto, e está muito longo.
- O que está longo?
- O texto. Tem que ser direto, não dá para ficar divagando. Conclui logo.
- Opa! “Conclua”, você quis dizer.
- Caraca!
- Ponto final!
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