Tênis Véi (e não: tênis, véi!)
- RafaelCiampi
- 25 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Perceber que o tênis pode ser tão imortal quanto o Thanos (dos Vingadores). Uma experiência científica que pode virar experiência de vida? Dá para ter carinho por um sapato?
Tenho um tênis que eu usava para correr, antigamente, que, logo depois que o comprei, acabei parando de usá-lo. Mudanças de rotina que deixamos tomar conta do nosso hábito de exercícios interromperam as atividades.
Ele ainda tinha um aspecto bom, a sola ainda não tinha aquelas marcas de desgaste. Quando ressurgiu a vontade de correr habitualmente, achei o referido calçado no armário de sapatos (o calçado era um tênis que estava no armário de sapatos. Você também percebeu isso?). O fato é que ele era muito antigo. Apesar do pequeno desgaste, ele tinha mais de um ano e, quando comecei a usá-lo, nessa retomada dos exercícios, ele explodiu, quase literalmente. Sabe aquelas cenas de filmes em que a bruxa milenar perde os poderes e acabamos enxergando a decrepitude cadavérica da carcaça humana com mais de mil anos, em alguns segundos? Pois é, aconteceu a mesma coisa com o tênis. Ele ficou em tão mal estado que a Márcia me proibiu de usá-lo na academia.
Como estava pensando em fazer uma pequena economia, resolvi aproveitar para fazer um experimento científico e verificar quanto tempo demoraria para que ele ficasse completamente inutilizado. Daí surgiram os problemas.
Primeiro: fui viciando em adiar o prazo, só para bater a meta e dobrá-la, recorrentemente. Aquela ponta da sola, que sobe até o bico, dos tênis de corrida, começou a soltar. Daí comecei a passar a super cola – isso, aquela que te faz lembrar o 007 – para adiar o fim. O problema é que a sola soltou de novo e num pedaço ainda maior. Aí, passei mais do adesivo líquido instantâneo e ultra resistente e quando a sola soltou, de novo, levou junto a camada impermeável, algo como um plástico, que reveste o tecido do tênis. O tecido ficou com textura de tecido mesmo, o que dificultou ainda mais a aderência, mesmo ao usar grandes doses da supercola Flintstones. Resultado: para de usar... a cola. A sola já está solta quase na metade do tênis, parece que estou pisando na língua atropelada do Gene Simmons (“o cara da língua” do Kiss). Estou com medo de começar a andar parecendo que estou calçando pés de pato (imagine!). Em alguns momentos, o som dos meus passos parece aqueles estalos de chinelos de borracha.
Usei como desculpa uma necessidade de economia, mas devo confessar que acredito que um mendigo descalço ficará ofendido, se eu oferecesse o tênis no estado atual.
A minha dedicação em prolongar a vida do referido, fez com que eu desenvolvesse um carinho especial por ele, algo que nem na infância ocorreu. Comecei a chama-lo de “tenínhos”, e começo a me preocupar com o fim da existência dele.
Fiquei com dificuldade de definir o conceito de acabar. Principalmente, porque ele parece ser daquela marca de caminhonetes que são famosas por nunca quebrarem, ou aquele canal noticioso que nunca encerra suas atividades. Acho que daqui a alguns anos terei que entregá-lo para o Keith Richards, para que esse possa verificar qual é o limite do calçado.
Para facilitar, resolvi que paro de usá-lo e o coloco em uma fogueira, num barco que vai para o alto-mar, quando eu vir uma nota de falecimento do teninhos, no jornal. Descanse em paz, nobre guerreiro!
Grande tênis! Mas acho que o Keith Richards não vai durar tanto quanto o Teninhos Highlander.
Continue escrevendo, Rafão! Um grande abraço!
Rumo aos 100 anos, teninhos!