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  • RafaelCiampi

TECNOLOGIA

Enquanto eu me embrenhava entre papelão, isopor, plásticos e peças, eu ouvia diversas vezes, dos adultos com 3 ou 4 décadas a mais de existência, como nós nascemos preparados para a tecnologia que iremos encontrar ao nascer.


 

Lá pelos idos de antigamente, no século XX, quando, na adolescência, eu era o especialista em instalar as novidades que chegavam em casa (Não que toda hora tivesse alguma coisa nova, mas eventualmente trocava-se a televisão da sala, o aparelho de som, etc.), bastava me chamar e me colocar diante daquelas caixas de papelão recheadas de isopor, cabos, peças, equipamentos eletrônicos e manuais de instalação e funcionamento e já ia, eu, desvendar os mistérios que me aguardavam. Lógico que, com o tempo as coisas foram se tornando mais fáceis e um simples conectar de caixas de som, deixaram de exigir a leitura anterior de um manual. Enquanto eu me embrenhava entre papelão, isopor, plásticos e peças, eu ouvia diversas vezes, dos adultos com 3 ou 4 décadas a mais de existência, como nós nascemos preparados para a tecnologia que iremos encontrar ao nascer. Parece que tem um gene que nos deixa pronto para isso.

Isso torna-se mais visível, agora que sou o que tem 2 ou 3 décadas a mais (sim, o espaço de tempo diminuiu nesse período) e que não vivo mais aquela sensação de pertencimento à tecnologia. A impressão de que eu sabia, ou conseguiria saber tudo o necessário para lidar com a tecnologia. Obviamente, ignorando os detalhes tecnológicos/industriais, se me permite resumir assim, que acompanhavam a simples lida doméstica dos equipamentos.

Hoje, despidos das caixas de papelão, isopor, sacos plásticos e aquele monte de pecinhas – algumas delas só saberíamos para que servia se lêssemos o manual e, eventualmente, ela não teria serventia, ou por não termos algum serviço, ou não existir a tecnologia disponível na região onde morávamos, ou, simplesmente, porque o uso daquilo não faria parte de nossas vidas – vivemos o confronto quase diário com tecnologias e inovações que não param de nos abalroar. Os manuais, agora virtuais e com certeza muito mais eficientes, povoam todas formas de hospedagem de vídeos, com todo o tipo de ensinamentos, cada vez mais cheios de regras e detalhes, mas cada vez mais bem explicados e sem aquele ritual divertido de revirar as embalagens em busca do que se procura. Uma experiência tátil, visual e olfativa que aumentava a diversão da coisa toda.

Mas hoje, apesar de ter tudo acessível, a sensação é de que tem muito conhecimento por trás, tem um monte de coisas que mostram que o universo é muito maior e aquela impressão de que sabíamos tudo ou que saberíamos tudo, sumiu entre os cabos que não existem mais, os impressos, que agora são virtuais e tecnologias que são entregues com cliques dentro de outro equipamento, sem nunca terem existência física.

Antes, vivíamos a ilusão de saber tudo e agora, vivemos a de ter tudo? Será isso? O que era etéreo, antigamente, era a sensação de conhecimento. O impalpável, hoje, é a própria tecnologia e, quiçá, o próprio conhecimento.

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